O Congresso de Operações Policiais – COP Internacional trará para debate a atuação
das duas principais facções criminosas brasileiras: o Primeiro Comando da Capital (PCC)
e o Comando Vermelho (CV). A palestra de Christian Vianna de Azevedo, atual
Subsecretário de Integração e Segurança Pública de Minas Gerais terá como tema os
crimes transnacionais, com ênfase na expansão do PCC e principais aspectos do tráfico
de drogas e armas no país. A questão da criminalidade organizada no Rio de Janeiro e
as respostas de enfrentamento da Polícia e do Estado serão abordados por Alexandre
Abrahão, Juiz de Direito titular da 3ª Vara Especializada em Crime Organizado no RJ. O
evento está agendado para os dias 16 a 18 de outubro, em São Paulo-SP.
PCC – Organização transnacional
O PCC teve sua origem em 1993, no sistema prisional de São Paulo, inicialmente como
um grupo de ajuda mútua entre presos em resposta às condições carcerárias. Na
década de 1990 o grupo criminoso era engajado em diversas atividades criminosas, e,
ao longo de sua evolução no mundo do crime, o tráfico de cocaína logo se tornaria a
sua atividade mais lucrativa.
Durante o início dos anos 2000, liderado pelo traficante Marcola, a facção incorporou táticas terroristas em suas práticas, resultando em ações violentas que marcaram a época, como as tentativas de atentados contra o Fórum da Barra Funda e a Bolsa de Valores de São Paulo e os ataques massivos, em 2006, contra
as forças de segurança em São Paulo. De acordo com Christian, neste mesmo período, o grupo iniciou sua transnacionalização, deixando gradativamente de negociar drogas com intermediários no Brasil e estabelecendo presença direta em países fornecedores de cocaína como a Bolívia, Colômbia e Peru.
“O PCC viu no tráfico transnacional de cocaína uma fonte muito lucrativa e a sua
expansão internacional incluiu a parceria com terroristas e facções de países como a
Venezuela, Colômbia, Nigéria e países da Europa, estabelecendo rotas para exportar a
droga para a Europa via África Ocidental. Hoje, a integração também é ativa com
carteis mexicanos, máfia italiana e outras facções globais”, afirma o Subsecretário.
Estimativas atuais apontam que um terço de toda a cocaína que chega ao continente
europeu passa por essa rota da África Ocidental, em um momento em que o Brasil
figura como maior país de trânsito de cocaína no mundo e o segundo maior
consumidor.
Crime organizado no Rio de Janeiro
O Comando Vermelho foi fundado em 1979 no presídio de Ilha Grande, a partir do
encontro de criminosos comuns e presos políticos que lutavam contra o Governo
Militar. Diferente do PCC, o CV sempre teve uma caráter bélico, com armas e lutas por
território, competindo com outros grupos criminosos cariocas, como o 3º Comando eADA (Amigos dos Amigos). Nos anos 2000 o grupo perdeu força com investidas da
Segurança Pública para preparar o Rio de Janeiro para a Copa do Mundo de 2014 e as
Olimpíadas de 2016. Com a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP),
iniciou um movimento centrífugo em que integrantes do grupo migraram para outras
cidades do Estado, abrindo espaço para a chegada e fortalecimento das milícias.
O Juiz Alexandre Abrahão destaca que, após a morte da vereadora Marielle Franco, em
2018, o Comando Vermelho deixou de ser o inimigo público número um, posto
assumido pelas milícias, o que permitiu que a facção de traficantes reassumisse o
território da capital carioca. “Atualmente o CV domina 80% das cerca de 1400
comunidades do Rio de Janeiro, o que representa uma reversão forte do quadro”,
descreve Abrahão. Além da presença no Estado fluminense, o grupo está presente
também na Bahia, Espírito Santo, Pará e Amapá.
Durante o COP Internacional os palestrantes levarão mais detalhes e estratégias de
enfrentamento das facções, bem como ações planejadas pelas forças de Segurança
Pública.
João Sansone, especialista em segurança pública, idealizador e responsável pela
organização do COP 2024, enfatiza a importância de trazer ao debate a complexidade
do combate ao crime organizado no Brasil. “Tratar a criminalidade no país não é uma
responsabilidade apenas da polícia, mas deve ser feito através de um esforço
combinado entre as Polícias, Ministério Público, Judiciário e também do setor privado,
legitimando a presença do Estado e oferecendo estrutura para reduzir a influência das
facções no dia-a-dia da população”, argumenta Sansone.