Do mundo imaginário para a vida real

Os jogos de tiro, ou shooter (termo em inglês), pode ser considerado um subgênero de jogos de ação, onde os jogadores utilizam armas de fogo para eliminar seus oponentes ou inimigos, passar pelas missões sem que o jogador morra, e avançar no jogo.

Considerado popular e clássico na história dos games, os jogos de tiros possuem diversas características que os diferenciam. Do ponto de vista da perspectiva, o jogador pode ver os disparos em primeira pessoa (first person shooter) – quem tem mais de 30 anos de idade, lembra de Wolfenstein 3D ou Doom, sucessos na década de 90 – ou por meio de uma câmera que segue o personagem a partir de uma distância e elevação (terceira pessoa/third person shooter). É também possível (mesmo raramente) encontrar jogos que têm uma câmera fixa.

Assim como todo jogo eletrônico, as temáticas podem ser muito variadas dentro do mesmo estilo, incluindo estratégias de interação. Um jogo de tiro pode focar em infiltração e invasão ao invés da ação. E outros podem ter elementos de horror.

Os jogos que fazem uso de elementos “realistas”, como armas que existem na vida real ou uma simulação de danos ao personagem, são frequentemente chamados de jogos de tiro táticos. Há gêneros para todos os gostos.

Alguns dos jogos mais famosos atualmente são: Apex Legends; Call of Duty: Warzone; Counter Strike: Global Offensive; Destiny 2; Fortnite; Grand Theft Auto V; League of Legends; Overwatch; PUBG: Battlegrounds; Rainbow Six Siege; e Valorant.

Os jogos de tiro, em primeira ou terceira pessoa, costumam ser os preferidos entre os gamers por proporcionar adrenalina e testar habilidades como mira e precisão. Além disso, o modo multiplayer online permite que sejam realizados através de um computador, console, celulares ou outros dispositivos móveis.

O designer Sergio Neres, 43 anos, conta que seu interesse pelos jogos de tiro surgiu desde criança, mas começou a jogar aos 26 anos, incentivado pelas competições online. “Sempre via os games de tiro e achava legal. Depois, comecei a participar de disputas de grupos de forma virtual com meus amigos”.

Dentro dessa prática, os jogadores têm buscado os jogos online de primeira pessoa (FPS) que possibilitam participar de disputas e até campeonatos com jogadores de qualquer parte do país e do mundo.

“Quando se joga em equipe, os objetivos ficam mais fáceis de serem alcançados. Porém, sozinho é bom para testar uma nova técnica”, reforça Neres. 

Ramon Henrique, 29 anos, também é adepto dos jogos de tiro e dedica, em média, cinco horas semanais para o game. Quando lançou o jogo Black para PS2, foi o momento que ele se sentiu mais atraído. De lá pra cá, são mais de 15 anos. “Enquanto jogo, tenho um sentimento de bem-estar e de alegria”.

Atualmente, as tecnologias ajudam na sensação de estar mais imerso nos jogos. Com a chegada da realidade virtual, essa impressão ficou maior ainda. “Em alguns jogos, sinto-me imerso e, às vezes, tenho até a sensação de estar mesmo dentro do jogo”, conta Ramon.

Jogos X Violência

Estudos realizados em 2020 mostram que há poucas evidências ligando jogos violentos à violência no mundo real. Pesquisadores da Universidade de Massey, na Nova Zelândia; da Universidade da Tasmânia, na Austrália; e da Universidade de Stetson, nos Estados Unidos, publicaram um artigo afirmando que não há relações claras entre o conteúdo violento dos jogos e a agressividade durante a infância e a adolescência.

Como alerta, no entanto, especialistas recomendam atenção para que a diversão não se torne vício. A Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu, em 2018, a compulsão por games como distúrbio de saúde mental na Classificação Internacional de Doenças. “Não há um número de horas de jogo que caracterize vício, mas é preciso ficar atento para observar se o game atrapalha outras atividades, como os estudos, ou afeta a saúde, como o peso ou ciclo do sono”.

Neres acredita que esse tipo de passatempo não incentiva o vício e nem a prática de violência. “Acho que o que incentiva a violência é a intolerância, o bullying, a discriminação, entre outros tipos de preconceito. As crianças jogam por diversão e pela disputa saudável que temos no ambiente de jogos online”, defende.

Ao ser questionado se a prática virtual incentiva a praticar tiro na vida real, Sergio foi enfático ao dizer que não. “Nunca me influenciou a praticar na vida real, mas acredito que os jogos ajudam a melhorar a mira e podem contribuir para o aprendizado de manuseio de uma arma”.

Ramon Henrique também concorda que os jogos não incentivam a violência, mas acredita que “alguns deles nos estimulam a gostar de armas e, consequentemente, ter uma”.

E-Sports

O primeiro campeonato de games aconteceu nos anos 1970, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Segundo dados do Guinness World Records, em 1997, foi realizada a competição Red Annihilation e de lá saiu o primeiro jogador profissional de videogames.

Desde então, o mundo dos games vem agitando o mercado financeiro. O relatório Global Esports Market Report, pela Newzoo, referência em dados sobre a indústria de games, aponta que em 2021 o mercado movimentou mais de 1 bilhão de dólares no mundo, e a audiência global de transmissões de jogos ao vivo atingiu 728,8 milhões, com um crescimento de 10% em relação a 2020.

E-Sports, conhecido e reconhecido como esporte eletrônico, não é apenas uma tendência ou entretenimento. No entanto, essa afirmativa vem dividindo opiniões.

Recentemente, a ministra do Esporte, Ana Moser, questionou sobre os esportes eletrônicos serem considerados uma modalidade esportiva. A declaração gerou grande repercussão e polêmica no cenário brasileiro.

Capitão da Imperial eSports e empresário, Gabriel “FalleN” falou sobre a regularização da modalidade no Brasil, que está caminhando em outros países, como é o caso da Dinamarca. “Cedo ou tarde, a gente vai precisar ter algumas regulações para o esporte eletrônico no país”.

Em sua rede social, o fundador do Fluxo e campeão mundial de Free Fire pelo Corinthians, Bruno ‘Nobru’, não concordou com a ex-atleta. “E-Sports é um esporte sim! Falar que E-Sports não é esporte só porque um esportista treina, é ignorar todo o processo que a pessoa tem ali de preparo físico e preparo mental para disputar uma competição”.