Defesa e segurança: do mundo militar ao mercado corporativo

“Lugar de mulher é onde ela quiser!”. Foi com essa frase que a tenente Mirian Pereira iniciou sua entrevista à Revista Triggers Magazine para contar um pouco sobre sua trajetória profissional e seus desafios como militar, empreendedora e, claro, como mulher. 

Sua personalidade forte e marcante é perceptível em pouco tempo de conversa. Firme, objetiva e muito inspiradora, Mirian consolidou-se no setor de Defesa e Segurança por meio de sua experiência no serviço ativo do Exército Brasileiro. Ela é formada em Administração de Empresas, tem MBA em Comércio Exterior e Logística e Supply Chain. É empreendedora, fundadora da empresa de Consultoria Vision Connection e possui forte atuação no mercado corporativo. Conta com mais de dez anos de experiência em grandes projetos voltados ao setor público e privado.

“Quando conheci de perto as Forças Armadas, logo de cara, já soube que era aquilo que queria para minha vida, ser uma militar do Exército Brasileiro. Desde então, tudo que eu pensava estava voltado para a conquista do meu objetivo, para minha aprovação nos processos seletivos”, lembra. 

Com muita determinação, em 2013, prestou concurso para STT – Sargento Técnico Temporário – e foi aprovada em primeiro lugar. No ano seguinte, fez o concurso para o OTT – Oficial Técnico Temporário – e também foi aprovada, ficando entre as cinco primeiras colocações. “Foi um dos momentos mais incríveis da minha vida, eu sabia que ali estava sendo um divisor de águas da minha vida profissional. Foram bons anos dedicados à Força, grande parte deles como Chefe da Carteira de Comércio Exterior, do Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados”. 

Após oito anos como militar, em 2021, Mirian deixou o Exército Brasileiro e fundou a empresa Vision Connection. Atualmente, ela é consultora do setor de Produtos Controlados pelo Exército (PCE) e Defesa Nacional. “Esse ato de coragem me abriu os olhos inclusive para outras possibilidades de negócios. Hoje, o meu trabalho me permite conviver com grandes executivos, e observar como eles agem, como negociam e como o mundo externo age em relação a eles, e isso é um dos ganhos intangíveis mais preciosos da minha carreira”. 

Ela afirma também que o reconhecimento financeiro é um elemento importante, mas não é o principal. “A comunicação, a transparência e a lealdade geram laços fortes de confiança, e muitos passam a ser não mais apenas clientes, mas bons amigos e parceiros de negócios em uma jornada tão desafiadora como a do setor de Defesa e Segurança, e Produtos Controlados pelo Exército”, completa.  

Em relação à transição do mundo militar para o civil, a tenente assegura que foi um processo pacífico, apesar dos hábitos e da rotina diferenciada. “Adaptei-me muito rapidamente ao mundo civil novamente, o fato de ter continuado no mesmo segmento me ajudou bastante. Existem as diferenças, principalmente na rotina diária, como atividade física, vestimenta, forma de tratamento entre as pessoas, entre outros costumes, mas de modo geral a adaptação foi tranquila”. 

Reconhecimento 

Em reconhecimento ao seu trabalho, a tenente Mirian Pereira recebeu a Medalha Exército Brasileiro, condecoração destinada às pessoas que tenham praticado ação destacada ou serviço relevante em prol do interesse e do bom nome das Forças Armadas.

“No ano de 2023, não mais no serviço ativo da Força, tive a satisfação de ser reconhecida pelo Exército. Ao receber a medalha, fiquei muito emocionada e reflexiva sobre todo o trabalho que venho executando após minha baixa, e concluo que tudo está valendo muito a pena, as inúmeras horas de estudos, os cursos, a dedicação, o planejamento e o meu posicionamento”, diz.

Igualdade 

A desigualdade de gênero no ambiente corporativo ainda é um desafio social a ser trabalhado. Questionada sobre as dificuldades enfrentadas no mercado, Pereira ressalta que não teve problemas, mas reconhece que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “Nós, mulheres, temos enfrentado uma longa jornada em busca da igualdade no mercado de trabalho. Ao longo dos anos, tivemos avanços significativos, mas ainda temos grandes desafios pela frente. No ambiente militar, tive uma experiência muito interessante. Logo que ingressei no Exército Brasileiro, fui designada a servir no 28º Batalhão de Infantaria Leve, na cidade de Campinas, e o que mais me impactou foi o contraste da proporção entre homens e mulheres: cerca de 780 homens e quatro mulheres”. 

Apesar de ser um campo predominantemente preenchido por homens, isso não acarretou problemas, pois sempre se sentiu respeitada como militar. E, agora, de igual forma, no mundo civil. “Não me sentia tratada como uma mulher, eu me sentia tratada como uma militar. Respeitados os postos e graduações, as atividades inerentes à função específica de cada militar, não havia distinção entre homens e mulheres. No setor de Defesa e Segurança, como em qualquer segmento, o trabalho executado com seriedade e profissionalismo supera qualquer possibilidade de preconceito”. 

Mirian avalia a inserção da mulher nesse ramo de trabalho como incentivo e inspiração para outras mulheres que desejam trilhar seu próprio caminho.  “Na atualidade, existem mulheres tomadoras de decisões, líderes, conselheiras, CEOs, diretoras, atiradoras profissionais, que ocupam tantas outras funções extremamente relevantes em nosso segmento”, reforça.  

Recentemente, Mirian se aventurou também como escritora. Ela faz parte do time de coautoras do livro “Mulheres na Defesa”, que será produzido pela editora Leader. O grupo é composto por 20 mulheres com atuação no segmento de Defesa e Segurança, que contarão o percurso de suas jornadas profissionais até aqui. “Essa é minha primeira edição, mas estou apenas começando, e tenho outros projetos que logo estarão batendo na porta”. 

Para o futuro, as expectativas são positivas. “Temos muito a fazer em prol de nosso setor, estamos tomando ações importantes. Embora o cenário seja desafiador, somos apaixonados pelo que fazemos e seguiremos em frente atuando com força e determinação”, conclui.