Carlo Danna é conhecido como um dos principais nomes do tiro esportivo do mundo. Italiano, nascido na província de Viterbo, conheceu o Brasil em 1998, quando veio fazer clínicas de tiro ao prato.
Dois anos depois, o atleta já consagrado como um dos mais importantes técnicos do esporte escolheu viver em terras brasileiras. Desde então, ele foi o responsável por fomentar e aprimorar o tiro esportivo e a modalidade de tiro ao prato no país.
Para abrilhantar a primeira edição da Triggers Magazine, Carlo Danna concedeu uma entrevista à jornalista Natália Rosa e contou um pouco mais sobre sua trajetória no mundo esportivo.
História
Em 1965, aos 15 anos, por influência do pai, Carlo Danna teve seu primeiro contato com o esporte, mas confessa que não gostou muito naquela oportunidade. No entanto, sua vida no tiro esportivo iniciou quatro anos mais tarde. E não demorou muito para compor a equipe italiana e se consagrar como um dos melhores do mundo como atleta e, posteriormente, como técnico. “Meu pai era atleta de tiro ao prato e me iniciou na modalidade fossa olímpica. Aos 22 anos, consegui a primeira convocação na equipe italiana e continuei como atleta por 30 anos. Quando a Federação Italiana me ofereceu o cargo de técnico da seleção, aceitei, parei de competir e iniciei a minha nova atividade, que desempenho até os dias atuais”, resume.
O especialista revelou sempre ter sido movido por desafios em sua trajetória e, por isso, sempre buscou exercitar sua independência e sua vontade nas escolhas profissionais. “Por ter sido sempre um homem livre e dono das próprias decisões, depois de alguns anos deixei a federação italiana e fui ao México para treinar o filho do então presidente da Federação Internacional de Tiro Olímpico (ISSF), que após dois anos parou de atirar”, relembra Danna.
“No final de 1998, vim ao Brasil convidado por um conhecido e para fazer clínicas de tiro ao prato. Retornei no ano seguinte, gostei desse país e, em 2000, decidi ficar. Naquela época, o tiro ao prato brasileiro era muito primitivo e praticado pela maioria com espírito amador, mas também com a pretensão de resultados – uma evidente contradição”, completa.
Amante do tiro esportivo, Danna se dedicou a compartilhar seu conhecimento no esporte. “Comecei a fazer clínicas de tiro para repassar o que aprendi em tantos anos de prática, de estudos e de experiências vividas como atleta e como técnico. Em 2005, fui contratado como técnico pela Confederação Brasileira e, apesar de algumas interrupções, segui com essa função até as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016”.
Conquistas
As conquistas como atleta e como técnico foram numerosas e, de acordo com Carlo Danna, “muito gratificantes”. Como atleta, foi campeão do mundo por equipe e bronze individual na modalidade fossa olímpica (TRAP). Foi uma vez medalha de prata e duas vezes medalha de bronze em três Campeonatos da Europa. Conquistou medalha de ouro em uma Copa do Mundo, onde alcançou o recorde pessoal de 198/200 pratos. “Na época, as provas eram a 200 pratos e as Copas do Mundo eram chamadas provas internacionais”, explica.
Ele ganhou medalha de prata individual e de ouro por equipe no Campeonato do Mundo de Fossa Universal. Foi ainda uma vez campeão italiano de Fossa Olímpica e duas vezes de Fossa Universal. “Ganhei muitas provas nacionais e muitas medalhas em provas internacionais”, comemora.
Como técnico da Itália, contribuiu para consagrar vários atletas em Campeonatos do Mundo, Copas do Mundo e medalhas olímpicas. No Brasil, também obteve bons resultados: “o mais importante foi o Campeonato do Mundo Juniores, e quem ganhou foi Leonardo Lustoza, um atleta que eu treino”.
Embate com a Confederação
Em sua trajetória de dedicação ao esporte, Carlo Danna se deparou com alguns desafios profissionais. Ele define o relacionamento com alguns presidentes da Confederação Brasileira como pouco proveitosos e harmônicos, “pois nunca pude fazer o que eu queria para divulgar o esporte e criar campeões”.
O ex-atleta acredita que essas divergências contrariam o que ele acredita que deveriam ser as prioridades de uma entidade esportiva, e representam barreiras para o crescimento da modalidade. “São 22 anos que estou no Brasil e não vi nenhum presidente dar atenção a estas duas prioridades – divulgar o esporte e criar campeões. A burocracia e outras dificuldades que encontram os praticantes desse esporte nunca foram enfrentadas e resolvidas, também pela inércia dos presidentes. Nunca foi feito nada para criar campeões – ninguém nasce campeão; ele se cria através do suporte necessário e das atividades pensadas e feitas com esse objetivo, principalmente pela entidade responsável. Ninguém chega a ser campeão sozinho. Nunca consegui fazer um trabalho construtivo e planejado com critério nesse sentido. A Confederação jamais se ocupou disso e jamais fez um planejamento a médio/longo prazo com essa finalidade”, lembra.
De acordo com Carlo, no esporte, assim como na vida, tudo é uma combinação de mente e corpo. “Na maioria dos esportes, o corpo prevalece; no tiro ao prato, prevalece a mente. A combinação de técnica e mente faz o campeão”. Nesse contexto, ele afirma que essa peculiaridade referente ao tiro ao prato nunca foi considerada pela diretoria. “Não existe um planejamento olímpico, que deveria ser pensado, comunicado e atuado no início de cada ciclo olímpico”, reforça.
Diante dos muitos relatos de falhas e omissões da Confederação, o técnico ressalta que o talento pessoal e a troca de experiências dos atletas com seus treinadores acabam gerando algumas conquistas para a modalidade no Brasil. “Tem alguns bons atletas que, sem nenhuma presunção, melhoraram bastante pelo relacionamento que tiveram comigo, mesmo sem nenhum tipo de auxílio por parte da entidade responsável”.
Apesar desse desenvolvimento, Danna ressalta que ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo esporte em nosso país. “Hoje têm mais praticantes dedicados e com a mentalidade de atleta, que estão crescendo mesmo enfrentando inúmeras dificuldades. Mas, o que permite o crescimento de um atleta é uma estrutura responsável formada com pessoas competentes, regulamentos e atividades pensadas para ajudar, estimular e dar suportes ao atleta. O esporte do tiro ao prato é o mais mental que existe, mas esse lado também parece ser ignorado. Até hoje, os poucos atletas da modalidade que conseguiram algum bom resultado não podem agradecer à Confederação”.
Burocracia
O tiro esportivo é uma prática que prevê a utilização de armas e munições em calibres e limites que não são permitidos ao cidadão comum. Essa é uma atividade regulamentada pelo Exército. Igualmente como é realizado para as armas de caça, as de tiro esportivo também são registradas junto a essa instituição. Da mesma forma, é necessário que o interessado possua o Certificado de Registro, porém na modalidade de Atirador Esportivo.
Em resumo, é necessário cumprir uma série de critérios e requisitos para conseguir o registro. As principais exigências são: ter idade igual ou superior a 25 anos; não ter antecedentes criminais; não estar respondendo a inquérito ou a processo criminal; ter uma ocupação lícita; ter residência fixa; comprovar aptidão psicológica e ter capacidade técnica para manuseio de arma de fogo.
Danna acredita que as regras para a prática do esporte deixam o Brasil atrás dos concorrentes, que têm legislações mais permissivas para o tiro esportivo. Essa sempre foi uma de suas grandes queixas em relação à modalidade no país. “Lamentavelmente, continuam as dificuldades vividas pelos atletas que praticam esse esporte: burocracia e custos elevados”.
Do ponto de vista financeiro, também é possível perceber muitas dificuldades, já que a aquisição de equipamentos de qualidade tem custo elevado e fora da realidade de muitos brasileiros. “Os cartuchos são os mais caros do mundo, assim como as armas. As melhores armas são importadas e caras por causa dos impostos altíssimos”.
“O tiro ao prato, que, como escrevo no meu livro, é uma escola de vida e uma terapia, deveria ser muito mais acessível pelas contribuições que dá na formação de um indivíduo. É um esporte fortemente emocional que exige concentração e autocontrole como nenhum outro esporte. Por essa razão, quem o pratica melhora como indivíduo pelos fortes reflexos que tem na vida”, filosofa o especialista.
Ele destaca que, infelizmente, também há muito preconceito no uso das armas e isso se confunde dentro da prática esportiva. “Às vezes, quando se fala que é um atirador, as pessoas confundem com violência. O esporte de tiro ensina a usar a arma de forma correta e disciplinada para praticar o esporte. Arma é violência nas mãos de bandidos, não de esportistas”, defende.
Tiro Esportivo: é um esporte que requer concentração, precisão e velocidade em atirar com uma arma que pode ser tanto de fogo como de ar comprimido. A prática desse esporte requer bastante treinamento e a necessidade de uso de equipamentos de proteção individual como óculos táticos, colete para guardar sua munição e um tampão nos ouvidos.
Tiro ao Prato: é uma das modalidades mais conhecidas do público brasileiro e tem duas variações, quando as provas podem ser: skeet e fossa olímpica. Nessa categoria, em todas as provas, há uma diferença no número de pratos para homens e mulheres. Os pratos têm 11 cm, são feitos de argila, calcário e alcatrão.